O papel da enzima aldeído desidrogenase-2 e os efeitos adversos associados ao uso crônico de opioides
Autor
Orientador
Afiliação Butantan
Tipo de documento
Doctoral thesis
Idioma
Portuguese
Direitos de acesso
Open access
Aparece nas Coleções:
Resumo
Opioides são os fármacos mais utilizados na clínica para o tratamento de dor
moderada à severa. Contudo, o uso crônico destes analgésicos desencadeia efeitos
adversos, como dependência, depressão respiratória, tolerância ao seu efeito
analgésico, bem como diminuição do limiar nociceptivo, fenômeno conhecido como
hipernocicepção (HIO). Assim, o melhor entendimento do mecanismo molecular pelo
qual esses analgésicos induzem tais efeitos é de grande importância para o
desenvolvimento de terapias mais eficazes. A enzima mitocondrial aldeído
desidrogenase 2 (ALDH2) metaboliza aldeídos reativos produzidos a partir do
estresse oxidativo, o 4-hidroxinonenal (4-HNE). Esta enzima também oxida sub-
produtos aldeídicos oriundos do metabolismo de neuroaminas como dopamina,
norepinefrina e serotonina a ácidos menos reativos. Cerca de 8% da população
mundial apresenta uma mutação pontual (E487K) na ALDH2, também conhecida
como ALDH2*2, que reduz a atividade desta enzima em até 100%. Estudos clínicos
sugerem que a população asiática é mais sensível a alguns efeitos adversos opioides.
Contudo, não se sabe se existe uma correlação causal entre a deficiência na atividade
da ALDH2 e o desenvolvimento dos efeitos adversos induzidos pela morfina. Assim,
o objetivo deste estudo foi determinar a participação da ALDH2 no desenvolvimento
dos efeitos indesejados dos opioides. Para tanto, utilizamos ferramentas de perda e
ganho de função da ALDH2, por meio de camundongos transgênicos portadores da
variante ALDH2*2 e uma pequena molécula (Alda-1) que ativa seletivamente tanto a
enzima selvagem quanto a mutante. Os resultados mostraram que a administração
crônica de morfina (5 dias) induz o comportamento de recompensa em ambas as
linhagens, porém, nos animais ALDH2*2 esse comportamento foi acentuado. Ainda,
apesar de mais sensíveis ao efeito analgésico agudo da morfina em baixas doses, os
animais mutantes exibem tolerância analgésica frente a administração crônica do
opioide, antes dos animais selvagens. Além da tolerância analgésica, esses animais
anteciparam o desenvolvimento de HIO, porém, foram mais resistentes ao
desenvolvimento da depressão respiratória. Os ensaios bioquímicos mostraram que,
no período coincidente com o início dos efeitos adversos, ocorre aumento dos níveis
de aldeídos (4-HNE e MDA) e ativação das vias pP90RSH, pERK1/2, astrócitos e
micróglia no encéfalo de animais ALDH2*2. Ainda, o tratamento crônico com morfina
aumentou a imunomarcação de TRPV1, CGRP e β-arrestina2 no gânglio dorsal da
medula espinhal de animais ALDH2*2 comparado aos selvagens, caracterizando
neuroinflamação. Nossas descobertas indicam que a ALDH2 regula os efeitos
adversos induzidos pela morfina, controlando aldeídos tóxicos no SNC e
neuroinflamação periférica. Além disso, portadores da variante genética ALDH2*2
podem apresentar maior HIO e tolerância aos opioides, no entanto, ainda podem
permanecer suscetíveis à depressão respiratória.
Referência
STEIN NETO, Beatriz. O papel da enzima aldeído desidrogenase-2 e os efeitos
adversos associados ao uso crônico de opioide. 2023. 140 p. Tese (Doutorado em
Ciências - Toxinologia) – Instituto Butantan, São Paulo, 2023.
URL permanente para citação desta referência
https://repositorio.butantan.gov.br/handle/butantan/5395
Palavra-chave
Agência de fomento
Data de publicação
2023
Arquivos neste item
O acesso às publicações depositadas no repositório está em conformidade com as licenças dos periódicos e editoras.